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Só renda fixa e dólar escapam em janeiro, enquanto bolsa cai 3,94%

Janeiro, que havia começado bem para a bolsa, com um certo otimismo, acabou piorando.

Autor: Luciana MonteiroFonte: Valor Econômico

Os temores com as pressões inflacionárias devem continuar permeando as atenções do investidor em fevereiro. E as medidas de controle de capital adotadas pelos governos ao redor do mundo e a fraqueza do dólar contribuem para deixar os investidores ainda ressabiados neste mês.

Janeiro, que havia começado bem para a bolsa, com um certo otimismo, acabou piorando. O investidor estrangeiro iniciou o mês aplicando fortemente em ações, mas depois colocou o pé no freio. O saldo - ingresso menos saída - dos não residentes, que chegou a R$ 2,5 bilhões no dia 12, estava em R$ 1,1 bilhão no dia 27.

Resultado: o Índice Bovespa encerrou em queda de 3,94%, o pior desempenho desde novembro, quando caiu 4,20%. A queda do indicador contrasta com a alta de 2,72% do Índice Dow Jones e de 2,26% do Standard & Poor"s 500, ambos do mercado americano.

Essa desvalorização da bolsa abre uma oportunidade para os investidores, ressalta Gilberto Poso, superintendente-executivo de gestão de patrimônio do HSBC. "Não creio que essa queda seja uma tendência", avalia. "Mas ficou claro que basta alguma tensão localizada para os investidores realizarem lucros."

O momento é de compra na bolsa, avalia Sandra Petrowski, superintendente de Investimentos da Votorantim Asset Management. "Gosto da bolsa, acho que ainda tem ações com bastante valor", diz. "Se a bolsa cair, tem de comprar, mas para quem tem visão de um ano pelo menos", diz.

O que se viu é que os investidores preferiram colocar no bolso os ganhos que tiveram no ano passado, principalmente com os papéis ligados ao crescimento interno, ressalta André Cleto, sócio da Beta Advisors. Não por acaso, ações como as ordinárias (ON, com direito a voto) da Renner se desvalorizaram 14,18% em janeiro. As ações de construção civil também sofreram bastante: Cyrela ON caiu 15,74%, Gafisa ON teve queda de 15,20% e Rossi Residencial, 11,36%.

Cleto avalia que, na bolsa, há oportunidades em bancos, principalmente nos papéis do Itaú Unibanco, que estariam baratos. Pelos cálculos dele, as ações da instituição vêm sendo negociadas a um Preço/Lucro (P/L, que dá uma ideia do prazo para o investidor ter retorno com o papel) de 10,5 vezes, enquanto normalmente esse número fica em torno de 15 vezes.

A Nest Investimentos optou neste início de ano por sair de setores mais sensíveis às medidas do governo para conter o consumo e apostar mais em educação e no segmento agrícola, conta Felipe Prata, sócio da gestora. "As commodities (metálicas e petróleo) devem sofrer no longo prazo, já que o mundo deve crescer menos", diz.

Janeiro foi marcado ainda por mais um esforço do Banco Central (BC) em segurar a apreciação do real. O BC criou um compulsório sobre carteira de câmbio dos bancos. Resolveu, também, voltar com os leilões de swap reverso - operação que equivale a uma compra de dólares no mercado futuro. Em janeiro, o dólar encerrou em leva alta, de 0,48%.

A primeira reunião de Alexandre Tombini à frente do BC para definir a taxa básica de juros trouxe uma alta de 0,5 ponto percentual, passando a Selic de 10,75% para 11,25% ao ano. Há uma percepção, no entanto, de que o governo está atrasado no controle dos preços. Nesse cenário, a renda fixa foi uma das poucas a fechar o mês com ganhos. O Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário, referencial para as aplicações mais conservadoras) teve variação de 0,86%.

O Boletim Focus mostrou que a expectativa do mercado para o IPCA neste ano foi para 5,64% ante os 5,53% medidos anteriormente. Para 2012, a previsão para o IPCA saiu de 4,54% para 4,70%. Isso significa que as duas expectativas de inflação se distanciaram ainda mais do centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%.

Muitos já apostam que o BC será leniente com a inflação neste ano. É o caso de Cleto, da Beta. "O BC não deve elevar tanto a Selic e teremos de conviver com uma inflação maior, o que significa que o investidor terá um juro real menor", avalia. Por isso, o executivo acredita que a aplicação em papéis prefixados pode ser interessante, pois o mercado espera um juro maior que, caso realmente não se materialize, traz ganhos aos aplicadores. Os papéis atrelados à inflação também são opção para quem quer se defender da alta de preços.

Visão diferente tem Poso, do HSBC. Para o pequeno investidor, a recomendação está nos papéis pós-fixados, não valendo a pena o risco presente nos prefixados. "O ciclo de alta de juros está claro, a questão é saber a velocidade das altas", diz ele, que acredita numa elevação entre 175 a 200 pontos no primeiro semestre.

Lá fora, a situação fiscal dos países europeus continuou chamando a atenção. A boa notícia é que houve vários leilões bem-sucedidos de papéis soberanos de Espanha, Portugal e Itália. Além disso, Japão e China deixaram claro que pretendem ajudar a financiar a dívida na Europa. O mercado avalia, entretanto, que esses leilões ainda são insuficientes para amenizar a situação de alto endividamento desses países.

Mas a percepção sobre a evolução da crise na Europa melhorou, fazendo com que o euro se valorizasse ante o dólar e as bolsas europeias se recuperassem, lembra o administrador de investimentos Fabio Colombo. Tanto que o euro registrou alta de 2,84% em janeiro ante o real.

O mês foi marcado também pela alta do compulsório na China e temor de que o país subisse a taxa de juros. E já nos estertores de janeiro, o mercado ficou bastante receoso com os conflitos no Egito e a possibilidade de fechamento do Canal de Suez - importante ligação entre o Oriente Médio e os países do Ocidente.

Na avaliação de Sandra, da Votorantim Asset, a turbulência do mercado ainda vai durar alguns meses. "Hoje o estrangeiro está vendendo porque estamos no início de um ciclo de alta dos juros que não sabemos aonde vai parar", diz ela. O receio é que a economia se desaqueça demais. "O BC bate na tecla das medidas macroprudenciais, pode vir compulsório sobre crédito, e o estrangeiro só vê que o Brasil cresceu 8% no ano passado e vai crescer menos este ano; com isso, ele acaba preferindo ir para os EUA, que estão dando sinais de melhora." (Colaborou Angelo Pavini)