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Diga adeus às DÍVIDAS e prepare uma RESERVA para 2015
Especialistas dizem que o ideal é planejar o que fazer com os recursos antes que entrem na conta-corrente já que, quem espera, acaba gastando tudo com pouco ou nenhum critério
A pouco mais de três meses para o fim de 2014 é hora de fazer um planejamento para entrar no próximo ano com as contas no azul. Na verdade, isso pode ser feito em qualquer época, mas neste momento é preciso dar um destino para o dinheiro extra de fim de ano, como o décimo-terceiro salário e demais abonos e bônus. Especialistas dizem que o ideal é planejar o que fazer com os recursos antes que entrem na conta-corrente já que, quem espera, acaba gastando tudo com pouco ou nenhum critério. E desse jeito acaba esquecendo que, depois do fim do ano, vem aquela ressaca de ano-novo para o bolso: os gastos extras com rematrícula e material escolar e principalmente o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores).
A prioridade do décimo-terceiro – que já começou a cair na conta dos aposentados pelo INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) em agosto e que começa a ser pago para a maioria dos trabalhadores nos próximos meses – vai depender da situação de cada um. Pode ser usado para quitar dívidas, iniciar uma reserva para emergência ou mesmo para a realização um projeto em 2015.
Quem estiver muito endividado, ou com a renda muito comprometida com prestações de bens de consumo pode aproveitar o recurso para quitá-las. "É preciso colocar tudo no papel. Quando o total de parcelas contraídas em compras já chega a 50% do ganho líquido, a pessoa não consegue mais honrar os pagamentos", diz Reinaldo Domingos, educador financeiro e presidente da DSOP Educação Financeira. Ele recomenda, neste caso, a metodologia de faxina financeira, na qual é preciso reunir a família e fazer uma avaliação das despesas e receitas líquidas, para então definir metas de economia e sonhos. "O mais importante é que, junto com a faxina, a família estabeleça quanto poupar para realizar sonhos em prazos curto (um ano), médio (de um a dez anos) e longo (mais de dez anos)", afirma. Segundo Domingos, quem precisa economizar deve começar evitando o desperdício de energia elétrica e água. Segundo pesquisa do Instituto Data Popular, a redução nas contas de consumo (luz, telefone, água e gás) tem sido a principal estratégia de quem está com o orçamento apertado. O levantamento, feito com 2.004 pessoas da classe C em julho, mostra que 81% reduziram estes gastos. Para 69% dos entrevistados, está difícil pagar as contas e nove em cada dez pessoas disseram que não conseguem comprar hoje, com o mesmo valor, o que consumiam no ano passado. Marcio Falcão, gerente de Novos Negócios do Data Popular, avalia que a inflação, mesmo dentro do teto da meta, está afetando o orçamento do consumidor, principalmente por causa da alta nos preços dos alimentos.
As dívidas com taxas de juros altas, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, devem ser prioridades de quem recebe as gratificações de Natal, segundo Wilson Muller, consultor de finanças do Vida Investe (programa da fundação Cesp). "O ideal é relacionar todos os parcelamentos e descobrir a participação deles no salário líquido (sem impostos e contribuições). O ideal é que a parcela de bens de consumo não ultrapasse mais do que 10% da renda mensal. Isso considerando também quem já tem 30% da renda comprometida com financiamento imobiliário", aconselha.
Oportunidade de ter um colchão financeiro
Se para algumas pessoas, as gratificações de Natal são uma oportunidade de organizar as finanças, para outras pode ser o momento de começar uma reserva financeira para 2015. Afinal, o próximo ano é de incerteza por causa do futuro governo, seja um novo ou a continuidade do atual. "Mesmo que o governo atual continue no poder haverá mudanças, como houveram nos segundos mandatos dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Novas alianças serão feitas, e o cenário mundial mudará. Não sabemos se o período será de mais ou de menos agruras, por isso é bom ter um colchão financeiro", avalia Álvaro Modernell, diretor da consultoria Mais Ativos Educação Financeira.
Segundo ele, quem tem essa reserva pode utilizá-la em emergências sem ter que se endividar. Exemplos podem ser a perda do emprego, problemas de saúde ou mesmo reparos de urgência em casa e no carro. Quem se prepara pode, ainda, aproveitar oportunidades, como comprar algo que deseja à vista por um preço menor. Os especialistas lembram que este colchão financeiro deve ser separado do recurso destinado a outros objetivos, como o investimento em uma aplicação financeira e o acúmulo para a aposentadoria.
Modernell diz que parte da reserva pode ser usada para fazer uma aplicação financeira, uma forma de ganhar com o juro alto. "Como teremos mudanças pela frente, a palavra de ordem é conservadorismo. Quem tem dinheiro disponível, pode avaliar aplicações pós-fixadas (cujo rendimento será conhecido no futuro, que acompanha um índice ou taxa da economia). O problema do prefixado (que paga um rendimento determinado no ato do investimento), neste momento de incerteza, é que o juro pode subir e o aplicador perder", afirma Modernell. Os especialistas em finanças dizem que o pequeno poupador pode recorrer aos títulos do Tesouro Nacional. Se a opção for aplicar em fundos de investimentos, a pessoa deve prestar atenção às taxas de administração que, junto com impostos, comem os ganhos.
O diretor da Mais Ativos recomenda que a reserva seja o equivalente ao montante de três e até seis vezes o valor da renda familiar. Já Muller, do Vida Investe, aconselha que o colchão seja correspondente ao montante de seis a 12 salários. O tamanho da reserva depende do orçamento de cada um, mas o importante é que ela exista. "Ter esse recurso é importante e ele pode ser o correspondente a três salários líquidos para cobrir pequenas emergências. O importante é que fique na poupança não comprometa a realização de outros sonhos. É preciso ter equilíbrio", diz Domingos da DSOP. Ricardo Pereira, consultor financeiro do projeto Consumidor Consciente da MasterCard, considera que poupar de 10% a 15% da renda líquida mensal é suficiente para formar uma reserva contra imprevistos. "Parte do décimo-terceiro pode ser usado para começar. Mas o mais importante é que isso se torne um hábito", diz.
Consumo não deve ser esquecido
De uma forma ou de outra – e como ninguém é de ferro – os especialistas recomendam colocar na ponta do lápis os gastos com as festas de fim de ano, como os presentes, festas e viagens. "Mesmo porque não é proibido comprar e nem realizar desejos. Basta entender que tudo isso pesa no orçamento e que não vale a pena entrar em 2015 com dívidas sem necessidade. O que acontece é que esta é uma época do ano muito sentimental e, quem não planeja, vai ao shopping e compra em um dia o que deixou de consumir em seis meses. Uma dica é estipular um valor para as compras e colocar em um cartão pré-pago, como forma de evitar o descontrole ", diz Pereira. Muller, do Vida Investe, diz que este é o momento de fazer uma lista de presentes definindo quanto vai gastar em cada item. "Ainda temos os meses de outubro e novembro para começar a comprar ou mesmo poupar para esse consumo", diz o consultor.
"Já poupei para ficar sem trabalhar por 10 meses"
Dayvid Robson Nascimento, administrador de empresas de 25 anos, tem um plano ousado para realizar um sonho: quer poupar até 70% do salário para passar um mês estudando inglês na Califórnia, no segundo semestre de 2015.
"Ainda estou orçando os valores de curso, passagem aérea e estadia. Vou poupar do meu salário porque sou autônomo e não recebo décimo-terceiro", diz. Para fazer essa economia, Nascimento tem a seu favor o fato de morar com a família e não ter gastos fixos com moradia. Agora, balada e consumo só de vez em quando. "Continuo saindo, mas com menos frequência. O planejamento ajuda muito e já tenho uma viagem de Reveillón agendada. Este será meu principal gasto de fim de ano", conta.
O administrador diz que, utilizando o método DSOP, já conseguiu fazer uma reserva que permitiu com que ficasse sem trabalhar por um período de dez meses. "Quis fazer um tratamento de saúde e passei muito bem nesse período", lembra.
Ele voltou a trabalhar neste ano e, com uma renda mensal, ficou em dúvida sobre onde aplicar o dinheiro por causa das incertezas que cercam o próximo ano. "Avaliei bem e escolhi o título do Tesouro porque, independentemente do governo, o país não quebra. É seguro", afirma.