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Notícia

Os perigos por trás de uma estratégia campeã

Mais cedo ou mais tarde, toda estratégia campeã deixa de funcionar. Seja pelo fato da concorrência o alcançar, a tecnologia mudar ou o fundador se aposentar

Não tenho certeza, mas acho que em todos os episódios de Jornada nas Estrelas ninguém jamais comemorou um aniversário. E se comemoraram, apostaria dinheiro como eles cantaram aquela famosa canção “Parabéns Pra Você”.

Não à toa, já que Parabéns Pra Você é a canção oficial de aniversários em todo o país.

Com mais de cem anos de idade, ela está firmemente enraizada como padrão na mente das pessoas. Acho que nunca estive em um aniversário em que essa canção não tivesse sido cantada.

Mais do que isso, ela ainda não mostra qualquer sinal de que irá desaparecer.

Por que correr o risco? Por que se dar todo o trabalho de fazer uma festa de aniversário só para decepcionar o convidado de honra não cantando a canção?

Mesmo não havendo dúvidas de que poderíamos inventar uma canção melhor, é extremamente improvável que, com Parabéns pra você estagnada no sistema, encontremos muitos compositores talentos ansiosos para assumir esse desafio.

A mesma coisa provavelmente acontece com várias organizações.

Existem rituais e estratégias campeãs que ninguém tem coragem de questionar, quanto mais de substituir.

Pense na Kodak. Só nos Estados Unidos, em 1976, a Kodak vendia 85% das câmeras e 90% dos filmes. Em todo o mundo, as porcentagens de vendas de seus produtos eram superiores a 50%. Para que se preocupar?

Contudo, duas décadas depois, as câmeras digitais apareceram com força e quebraram a Kodak. Ela até tentou sobreviver, lançou câmeras digitais, mas seu nome não era mais sinônimo de fotografia. Faliu em 2012 e acabou com uma marca famosíssima.

Outro exemplo é a Dell, que se tornou uma das maiores fabricantes de Notebook’s do mundo à força de uma única estratégia campeã: a venda direta baseada em uma produção sob demanda. Poucos anos depois, seus concorrentes HP e Lenovo retomaram suas fatias de mercado, e a Dell perdeu sua liderança.

Talvez elas pudessem ter tomado uma abordagem diferente.

Se tivessem lançado uma nova e significativa tentativa de inovação a cada ano, pode ser que, ao final de 10 anos, esse esforço constante e consistente para substituir a estratégia campeã atual teria criado dezenas de vencedores, garantindo um crescimento estável para a empresa.

Porém, em vez disso, provavelmente o que as pessoas envolvidas nesses casos visualizaram foi algo parecido com a canção Parabéns pra você: sucesso para sempre.

O fato é que ficar confortável com uma estratégia campeã dificulta incrivelmente a adoção de mudanças.

Mas se uma empresa não substitui sua estratégia antes que ela fique completamente obsoleta, vai descobrir que não tem nem tempo nem dinheiro para encontrar uma nova.

O guepardo tinha uma estratégia campeã – correr o mais rápido possível. Funcionou muito bem até o homem inventar o rifle e o helicóptero.

Betty Crocker também tinha uma estratégia campeã: tornar mais fácil fazer um bolo em casa. Isso funcionou até que as mães que trabalham descobrirem que não tinham tempo sequer para ligar o forno.

Para o guru do Marketing Seth Godin, se o ambiente competitivo continuasse sempre o mesmo, a estratégia campeã continuaria sendo campeã. Mas hoje, no entanto, como as regras mudam tanto, as estratégias campeãs não duram muito tempo.

Isso o fez concluir que mais cedo ou mais tarde, toda estratégia campeã deixa de funcionar. Seja pelo fato da concorrência o alcançar, a tecnologia mudar ou o fundador se aposentar.

E quando isso acontece, podem ocorrer duas coisas: ou a empresa tem tempo e coragem de sobra para tentar encontrar uma nova estratégia campeã, ou se extingue.

Nos “velhos tempos”, o ciclo de vida de uma estratégia campeã era bastante longo. Você podia iniciar o trabalho, ter uma carreira e praticamente se aposentar quando a estratégia campeã deixasse de funcionar.

Infelizmente para nós, o mundo muda e sempre há alguém aberto a encontrar uma nova estratégia campeã cheia de características que tornarão a estratégia recém-adotada mais poderosa que a sua.

Então, se você é dono ou preside alguma organização, é importante entender que faz parte do seu trabalho organizar a empresa para pular a bordo de uma estratégia que seja campeã agora e, ao mesmo tempo, organizar a empresa para evoluir com frequência suficiente para encontrar a próxima estratégia antes que a de hoje desapareça.