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Adaptação às regras continua atrasada

As companhias ainda não se sentem preparadas para a mudança.

Fonte: Valor EconômicoTags: contabilidade

Graziella Valenti

Com o ano de 2010 já batendo à porta, pesquisa realizada pela Ernst & Young com 96 executivos mostra que os trabalhos de adaptação das empresas às novas regras contábeis continuam atrasados. As companhias ainda não se sentem preparadas para a mudança.

Na verdade, o sentimento de despreparo das companhias aumentou na comparação com um ano antes, quando foi realizada a primeira fase do estudo da firma de auditoria. Em julho deste ano, somente 28% das quase 100 empresas ouvidas no levantamento afirmaram estar preparadas para esse processo de adaptação às regras, enquanto que cerca de um ano antes esse percentual chegava a 33%. O percentual de empresas que possuem equipes dedicadas ao assunto não se alterou com o passar do tempo, permanecendo em 40%.

Na opinião de Paul Sutcliffe, sócio líder em IFRS da Ernst & Young, esse sentimento pode ser fruto do processo de tomada de conhecimento do tamanho do desafio, ao avaliarem mais cuidadosamente o assunto, dada a proximidade dos prazos.

Essa avaliação pode ser corroborada pelo aumento da fatia de companhias que têm a intenção de contratar pessoas para ajudar neste momento de transição, que passou de 18% para 40% da primeira para a segunda fase da pesquisa. O percentual de companhias que passou a contar com auxílio do auditor externo cresceu, subindo de 61% para 70%.

Na avaliação de Sutcliffe, o resultado do levantamento foi surpreendente. Isso porque, com a proximidade da adoção às novas regras, as empresas deveriam estar mais preparadas. Na opinião do executivo, conduzir esse processo de maneira não organizada e com pressa pode trazer prejuízo às companhias.

Além de aumentar o risco de erros e necessidades de republicações, a falta de tempo prejudica o preparo de uma comunicação adequada para lidar com o público externo da companhia. Por fim, há também a chance de a empresa fazer escolhas ruins, que prejudiquem seus próprios números. "O IFRS nunca tem um único caminho. Se você não conhece todos eles muito bem, pode pegar um que não é o mais adequado ao seu negócio."

Ainda há um grupo grande de empresas que sequer fez uma avaliação do impacto que a mudança trará para os números. De acordo com a pesquisa, 32% dos entrevistados responderam não ter feito ainda essa análise. Houve melhora em relação ao ano passado, quando foi feita a primeira fase da pesquisa e quando a fatia chegava a 41%.

Trata-se, porém, de um percentual significativo considerando que os balanços trimestrais de 2010 já deveram estar enquadrados à norma internacional e às novas regras emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) ao longo deste ano.

O sócio da Ernst & Young lembrou ainda que a adoção inicial do padrão internacional - conhecida como IFRS 1 - exige análise cuidadosa pois ela é o ponto de partida para a mudança e permite algumas concessões. Contudo, segundo o levantamento, 66% dos entrevistados disseram não ter conduzido essa avaliação de forma a considerar quais são suas opções para esse momento de largada.

Sutcliffe lembrou ainda que não se trata somente de estudar e tomar decisões. Medidas práticas são necessárias, incluindo mudanças de sistemas de tecnologia de informação, o que exige tempo e adaptação. Segundo o executivo, dependendo do setor da companhia, o ideal seria que ela já estivesse preparada desde o começo deste ano, uma vez que os dados de 2010 terão de ser comparáveis aos deste ano.

"É possível fazer tudo isso numa planilha de Excel, na mão, mas a interferência humana aumenta e isso não é o mais adequado", disse. Ele ressaltou que quanto mais dependente do trabalho manual, maiores são as chances de erro.

 

Auditor cobra CVM por reprimenda

Os auditores vão pedir explicações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão regulador do mercado de capitais, sobre um ofício divulgado na semana passada em que a autarquia critica a atuação desses profissionais.

Representantes do setor aproveitaram um evento, que acontece em São Paulo, para marcar um encontro e pedir explicações.

A reunião está marcada para hoje, último dia da Conferência Anual de Contabilidade e Responsabilidade para o Crescimento Econômico Regional na América Latina e Caribe, que começou na quarta-feira e reúne profissionais de diversos países.

Segundo um auditor, a intenção é perguntar à CVM o que motivou a reprimenda. Eles não gostaram da generalização feita pelo regulador ao divulgar o comunicado, no início deste mês.

O ofício diz que "foram identificados casos em que houve emissão inadequada do tipo de parecer e omissões nos comentários nos parágrafos adicionais" dos balanços das companhias abertas de 2008. Nenhuma firma é identificada.

Antonio Carlos de Santana, superintendente de normas contábeis e auditoria da autarquia disse que o ofício não foi resultado apenas do que aconteceu nos balanços de 2008, mas do conjunto dos últimos anos.

"Como foi genérico, o documento alcançou auditores que não se enquadravam nos problemas", admite Santana. Como forma de apaziguar os ânimos, declarou: "Certamente, os maiores problemas estão onde há menos treinamento, principalmente nas pequenas e médias [auditorias]".

Ele destaca que o comunicado teve um objetivo claro, que é destacar a necessidade de um processo de aprendizado contínuo. "Sempre há aperfeiçoamentos a serem feitos." Ele lembrou ainda que há "desníveis" na profissão, que precisam ser superados. "É a preocupação atual do Ibracon [instituto dos auditores independentes]", diz.

 

Regra das concessões vai a audiência

Josette Goulart

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou ontem o edital de audiência pública para discutir as novas regras contábeis internacionais para as empresas concessionárias de serviços públicos. As regras que devem entrar em vigor no próximo ano vão alterar completamente a forma de contabilização dos ativos dessas empresas. Isso vai afetar principalmente setores como o elétrico e de transportes.

A Interpretação do Comitê dos Pronunciamentos Contábeis número 01 é apenas uma tradução do IFRIC 12, a interpretação do International Accounting Standards Boarding (IASB) e por isso mesmo as contribuições durante a audiência pública pouco podem alterar o conteúdo das normas. De qualquer forma, o sócio da Ernst& Young, Marcio Quintanilha, acredita que esta pode ser uma forma de as empresas atingidas se manifestarem quanto às dificuldades para a aplicação da norma já a partir do próximo ano.

Um dos grandes pontos a ser discutido é exatamente que tipo de empresa será afetada. No caso do setor elétrico, há dúvidas se as geradoras ou transmissoras de energia devem seguir as regras. Sabe-se apenas que as empresas de geração termelétrica, como a MPX Energia, não serão afetadas porque não se enquadram na regra de concessão pública. E ainda que as distribuidoras vão ter que seguir as novas regras.

De acordo com o gerente de normas contábeis da CVM, José Carlos Bezerra da Silva, as regras serão aplicadas no balanço consolidado dos grupos. Por isso, no caso das elétricas, mesmo que se defina que as geradoras de energia não precisam seguir as regras, a empresa holding terá de contabilizar todos os seus ativos seguindo o padrão internacional. Bezerra da Silva diz, entretanto, que aqui no Brasil não foi feito até agora nenhum estudo nos balanços para avaliar o impacto das novas regras.

Basicamente dois são os pontos mais polêmicos do IFRIC 12, agora com o correspondente no Brasil ICPC 01. O primeiro é que as empresas passam a ter de registrar uma receita de construção que vai ampliar consideravelmente o faturamento. O segundo é o que o ativo imobilizado deixa de existir.

De acordo com o diretor da 5ª regional do Instituto Brasileiro de Contabilidade (Ibracon), Tadeu Cendón, na Europa, umas das poucas empresas que já construíram seu balanço com base nas regras do IFRIC 12 foi a GDF Suez. Segundo ele, o registro da receita de construção não teve efeito porque a empresa debitou como custo o mesmo valor atribuído como receita, neutralizando qualquer efeito. Isso porque a companhia alegou que não tinham como estimar uma margem de ganhos.

Ao que parece, as empresas terão de trabalhar com muita estimativa na fase de transição. Principalmente no Brasil. Isso porque hoje não há definição regulatória para o valor de indenizações a ser dado para as concessionárias no fim dos contratos. Essa questão é importante pois os ativos fixos passam a ser registrados como financeiros e intangíveis. Este último se refere à receita estimada até o fim da concessão. Mas a contabilização dos ativos financeiros leva em conta justamente o valor da indenização ao fim da concessão.